Porque
fazer?
Os casais brasileiros estão
percebendo cada vez mais que os médicos e profissionais da saúde
bem-intencionados nem sempre têm respaldo científico que sustentem as práticas
obstétricas comuns e que muitas dessas práticas são adotadas simplesmente por
serem parte de uma tradição médico-hospitalar.
Nos últimos quarenta anos muitos
procedimentos artificiais foram introduzidos, de modo a transformar o
nascimento de evento fisiológico natural em um complicado procedimento médico
no qual todo tipo de droga é usada, todo tipo de procedimento é aplicado,
muitas vezes desnecessariamente e alguns dos quais potencialmente prejudiciais
ao bebê e até à mãe.
Está cada vez mais claro que todos os
aspectos dos cuidados médicos hospitalares tradicionais no Brasil devem ser revistos
e questionados criteriosamente sob a luz do respaldo científico em relação aos
possíveis efeitos sobre o bebê e a parturiente.
A gestante/parturiente tem o direito
de participar das decisões que envolvem seu bem estar e o do bebê que ela está
gestando, a menos que haja uma inequívoca emergência médica que impeça sua
participação consciente. Ela tem o direito de saber exatamente os benefícios e
prejuízos que cada procedimento, exame ou manobra médica pode provocar a ela
e/ou ao seu bebê.
Todas essas informações devem ser
fornecidas com base nas evidências científicas. Abaixo você poderá se inteirar
das variáveis que acontecem no atendimento ao parto, sobre as quais você pode
ter alguma influência. Ao lado de cada variável, procedimento ou atitude, segue
uma explicação baseada em evidências científicas.
Esses
detalhes podem fazer uma grande diferença para o seu parto, tornando-o uma
experiência mais intensa e enriquecedora para toda a família. Analise-as com
cuidado junto ao seu parceiro e explique ao seu médico o quanto elas são
importantes para você.
DURANTE O TRABALHO DE PARTO
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Você Quer?
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Explicação
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1)
Presença de um acompanhante de sua escolha durante todo o parto, da admissão
ao nascimento.
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Elimina
o estresse da separação. Seu parceiro pode provê-la com suporte emocional
durante o trabalho de parto e durante todos os procedimentos necessários. A
presença do pai propicia a formação dos laços familiares com o novo membro
que vai nascer. É direito garantido por lei federal.
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2)
Presença de outras pessoas da família ou amigos durante o trabalho de parto e
parto.
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A
presença de outras pessoas da família ou amigos pode significar mais apoio
para você e seu parceiro. Não há aumento na incidência de infecções, desde
que essas pessoas não apresentem sinais de doença (por exemplo, coriza ou
diarréia)
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3)
Lavagem Intestinal (Enema, Fleet-Enema, Enteroclisma).
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A
lavagem intestinal é desconfortável e desnecessária se você teve
funcionamento normal do intestino nas últimas 24h. No entanto, se você
estiver constipada, poderá a qualquer momento solicitar uma aplicação.
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4)
Liberdade para caminhar.
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Caminhar
estimula o útero a funcionar eficientemente. Os trabalhos de parto que
incluem livre caminhar são mais curtos e menos propensos a receber
medicamentos analgésicos.
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5)
Liberdade para mudar de posição.
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Sentar,
deitar de lado, ajoelhar, acocorar, cada posição pode funcionar melhor ou ser
mais confortável em diferentes momentos do trabalho de parto.
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6) Uso
da água no trabalho de parto.
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Passar
parte(s) do trabalho de parto sob o chuveiro ou imersa numa banheira diminui
a necessidade de medicamentos para dor.
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7)
Bebidas e alimentos com alto teor de carboidratos e pouca gordura à vontade.
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Alimentos
ricos em carboidratos e pobres em gordura permitem digestão rápida e
suprimento energético necessário durante o trabalho de parto. Líquidos
previnem a desidratação.
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8) Água
e bebidas leves.
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Você
pode ficar com a sensação de boca seca por causa das técnicas de respiração.
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9)
Objetos pessoais (camisola pessoal, música, flores).
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Objetos
familiares podem melhorar a experiência do parto ao permitir um melhor
relaxamento e mais conforto.
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10)
Tricotomia (raspagem dos pelos pubianos) apenas se desejado.
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A
raspagem dos pelos não diminui a incidência de infecções e o crescimento no
período de pós-parto pode ser bastante desconfortável.
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11)
Infusão intravenosa apenas se houver indicação médica.
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A
infusão intravenosa restringe a mobilidade e interfere no relaxamento. A
ingestão de líquidos leves no trabalho de parto reduz a chance de
desidratação. As hemorragias em partos espontâneos e não medicamentosos são
muito raras para justificar o uso de infusão preventiva.
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12)
Monitoramento fetal eletrônico apenas se houver indicação médica.
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Em
parturientes de baixo risco, a auscultação intermitente dos batimentos
cardíacos fetais por uma enfermeira ou parteira treinada demonstrou ser tão
efetivo quanto o uso do monitoramento fetal eletrônico. Além disso, o
aparelho restringe o movimento, podendo ser também bastante incômodo.
Geralmente as mulheres são instruídas a deitar de costas, posição que pode
ser muito desconfortável e ter ação negativa sobre o trabalho de parto e o
bebê. O uso intermitente do monitor pode ser uma alternativa.
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13)
Rompimento espontâneo da bolsa das águas.
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O
líquido amniótico contido na bolsa tem um efeito de proteção, equalizando a
pressão sobre o bebê, o que resulta em menos pressão na cabeça. O rompimento
artificial das membranas aumenta as chances de infecção e cria um limite de
tempo para o parto, além de resultar em contrações geralmente mais dolorosas.
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14)
Medicação para alívio da dor administrada apenas quando solicitado por você e
com informações completas sobre possíveis efeitos sobre você, o bebê e o
trabalho de parto.
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Todo e
qualquer medicamento tem um efeito potencial que pode afetar você, seu bebê e
seu trabalho de parto. Saber de antemão os benefícios e riscos dos
medicamentos usados pelo médico permitem que você faça escolhas conscientes.
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15)
Presença de acompanhante de parto profissional para suporte contínuo
(massagista, fisioterapeuta,doula, enfermeira ou obstetriz sem vínculo com o hospital).
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Um
profissional experiente, que tenha um comprometimento com você em relação ao
tipo de parto que você deseja, pode oferecer importantes informações
adicionais. A presença de uma doula pode reduzir suas chances de ter uma
cesárea em até 50%, tornar o trabalho de parto mais curto, fazer o uso de
ocitocina menos necessário, reduzir a necessidade de anestesia e de uso do
forceps. Uma massagista ou terapeuta corporal pode utilizar técnicas de
alívio dos desconfortos do parto.
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16)
Ocitocina ou drogas de efeito similar para indução ou aceleração do trabalho
de parto apenas sob necessidade médica.
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As
contrações induzidas por ocitocina são mais difíceis de serem suportadas do
que as contrações naturais, tanto para você como para o bebê. Os riscos do
parto induzido incluem restrição do suprimento de oxigênio do bebê e parto
prematuro. As complicações decorrentes do uso de ocitocina podem aumentar as chances
de uma cesárea ser necessária.
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17) Uso
de suíte de parto ou a mesma sala/quarto para o trabalho de parto e parto.
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Isso
evita que você seja transferida às pressas, geralmente deitada de costas numa
maca, da sala de pré-parto para a sala de parto, durante a fase de expulsão.
Muitos hospitais já oferecem as “suítes de parto” ou “LDR (Labor and Delivery
Room)” onde a parturiente fica durante todo o trabalho de parto, parto e
recuperação. O uso do apartamento fora do centro obstétrico para o parto
normal de baixo risco, sem intervenções, também é uma excelente opção.
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DURANTE O PARTO EM SI
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Você Quer?
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Explicação
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1)
Posição para expulsão confortável (para você) e eficiente.
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A
posição semi-reclinada (quase sentada), deitada sobre o lado esquerdo, de
joelhos ou cócoras pode ser bem mais confortável do que ficar deitada de
costas. Deitar de costas comprime o cóccix, diminui o diâmetro da pélvis,
pode ser desconfortável e faz o útero pesar sobre artérias importantes,
impedindo um bom fluxo sanguíneo. Acocorar-se faz diminuir o comprimento do
canal de parto, aumenta a abertura da pélvis, e faz as contrações serem mais
eficientes, já que o trabalho está sendo auxiliado pela gravidade.
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2) Não
usar estribos ou perneiras.
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A
posição de litotomia, na qual você se deita de costas e coloca os pés nos
estribos ou perneiras, faz com que o parto seja um esforço contra a gravidade
e força você a empurrar o bebê para cima. Estribos abertos, embora dêem ao
médico uma excelente visão do campo de trabalho, fazem o períneo esticar
demasiadamente, aumentando as chances de laceração.
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3)
Episiotomia apenas se for necessário.
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Ao
permitir que a cabeça do bebê emerja vagarosamente, apenas sob as forças
uterinas, o períneo tem maiores chances de distensão, o que minimiza as
chances de lacerações. A recuperação da episiotomia pode ser bastante
desconfortável. A cicatriz muscular pode afetar posteriormente o prazer
sexual. A episiotomia diminui o período expulsivo, podendo ser necessária em
caso de sofrimento fetal ou se for preciso o uso do fórceps. Muitos
profissionais de saúde fazem a episiotomia rotineiramente, independente de
ser necessária, o que não tem qualquer justificativa aceitável.
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4)
Anestesia peridural ou raquidiana apenas se for necessária alguma intervenção
cirúrgica ou a pedido materno.
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A
anestesia é desnecessária na maioria dos partos sem complicações, sem o uso
de ocitocina e com liberdade de posição. No caso de uma episiotomia, um
anestésico local pode ser aplicado na hora.
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5)
Nascimento suave (Parto Leboyer).
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O
nascimento Leboyer é uma atitude, mais que um procedimento. Diminui o trauma
sensorial e físico do bebê na hora no nascimento.
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6)
Clampeamento do cordão apenas depois que parar de pulsar.
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O
clampeamento tardio permite que o bebê continue recebendo oxigênio pelo
cordão umbilical enquanto o sistema respiratório começa a funcionar. Diminui
o risco de anemia em bebês até 6 meses.
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7) O
Pai corta o cordão umbilical.
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Aumenta
a participação do pai no nascimento.
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8) Bebê
colocado imediatamente no seu colo (ou sobre a barriga ou nos seus braços).
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O
contato imediato pele-a-pele é benéfico. Se mãe e bebê forem cobertos com uma
manta, a temperatura do bebê é mantida.
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9) Bebê
amamentado assim que possível.
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A
sucção do bebê estimula a produção materna de ocitocina, que induz o
delivramento da placenta e reduz o sangramento pós-parto. O reflexo de sucção
do bebê é mais forte nas primeiras horas após o nascimento. O colostro age
como um laxativo, limpando o trato intestinal do bebê do muco e do mecônio.
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10)
Antibiótico oftálmico ou nitrato de prata apenas depois do período de
formação do vínculo (primeiras horas após o parto).
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Esses
produtos interferem na visão do bebê, que é muito importante durante o
período de vínculo, logo após o parto. Caso a mãe não seja portadora de
gonorréia, o nitrato de prata não tem qualquer utilidade e pode provocar
conjuntivite química no recém-nascido.
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11)
Placenta expulsa espontaneamente da parede do útero.
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Tração
ou massagem pode fazer com que parte do tecido placentário permaneça no
útero, podendo provocar infecção e hemorragia pós-parto.
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12)
Vínculo precoce mãe-bebê.
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As
primeiras horas após o parto são muito importantes no desenvolvimento da
ligação afetiva entre os pais e o bebê. Eles não deveriam ser separados em
nenhum momento.
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13)
Tirar fotografias ou filmar durante o parto.
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São
formas maravilhosas de se lembrar desses momentos incríveis, desde que não
atrapalhem a concentração da mãe ou impeçam o pai de participar ativamente no
auxílio à sua companheira. Algumas mulheres sentem-se constrangidas, discuta
a questão antes.
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PÓS-PARTO
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Você Quer?
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Explicação
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1)
Amamentar.
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Em
termos nutricionais, o seu leite é o alimento perfeito para o seu bebê. A
amamentação é uma experiência emocionalmente gratificante tanto para o bebê
como para a mãe e é econômica. Ajuda o útero a contrair e voltar mais
rapidamente ao tamanho normal.
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2) Não
deverá haver separação entre mãe e bebê a menos que haja indicação médica.
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O
contato contínuo mãe-bebê favorece a formação do vínculo entre eles. Aumenta
as oportunidades para a equipe de enfermagem oferecer instruções sobre os
cuidados com o recém-nascido. Os primeiros banhos podem ser dados no quarto
da mãe.
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3) Não
oferecer ao bebê água, leite em pó (fórmulas), chupeta ou bicos.
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O
oferecimento de bicos e mamadeiras ao bebê pode provocar confusão, já que
exigem uma ação diferente da língua, comparada à da amamentação natural. Se o
bebê é alimentado no berçário entre as mamadas, ele não vai sugar
adequadamente para o estímulo mamário da produção de leite.
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4)
Alojamento conjunto 24 horas.
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Permite
contato íntimo entre pais e bebê, favorecendo a formação do vínculo. Você
poderá amamentar sob livre demanda e aprender os primeiros cuidados com seu
bebê ainda sob a supervisão das enfermeiras.
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5) Pai
deverá ficar no apartamento com mãe e bebê até a alta.
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Reforça
os laços familiares. Permite que o pai participe dos cuidados com o bebê. A
maioria dos hospitais particulares oferece a possibilidade do pai ficar
alojado com a mãe no apartamento privado.
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6)
Visitação à vontade dos irmãos mais velhos.
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Ajuda as
crianças mais velhas a perceberem que você está bem. Encoraja a aceitação do
novo bebê pelos irmãos.
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EM CASO DE CESÁREA
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Você Quer?
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Explicação
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1)
Escolha de médico, anestesia e hospital “amigos da mulher”, que permitam uma
cesárea centrada na família.
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Uma
seleção cuidadosa da equipe poderá garantir a participação da família, mesmo
no caso da cesárea, tornando o processo mais humanizado.
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2) Participação
de um acompanhante de sua escolha durante a cesárea.
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A
presença de uma pessoa querida poderá prover segurança emocional durante esse
processo tão delicado, além de estar garantido por lei federal.
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3)
Permitir o início do trabalho de parto antes de efetuar a cesárea.
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O
trabalho de parto é a indicação de que o bebê está pronto para nascer.
Esperando pelo início do parto diminuem substancialmente as chances de seu
bebê nascer prematuro, já que nenhum outro exame pode garantir que os pulmões
do bebê estejam maduros.
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4) Ser
informada de cada procedimento associado à cesárea (testes, tricotomia, sonda
urinária, etc).
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Saber
passo a passo o que está acontecendo, permite que você fique mais relaxada e
mais participante do processo.
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5)
Tricotomia parcial (do abdome até a altura do osso púbico).
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Diminui
o desconforto quando os pelos começam a crescer novamente, sem aumento nas
chances de infecção.
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6) Uso
de anestesia peridural/raquidiana (não utilização da anestesia geral).
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Permite
que você esteja acordada no nascimento do bebê e facilita a interação. Exceto
pelas emergências, geralmente há tempo suficiente para se aplicar uma
anestesia regional.
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7)
Rebaixamento do protetor ou uso de espelho na hora do nascimento.
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Permite
que mãe e pai assistam ao nascimento do bebê e sintam-se mais integrados à
experiência de nascimento.
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8)
Amamentação tão logo seja possível, mesmo na mesa de cirurgia ou na sala de
recuperação.
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Isso dá
à mãe e ao bebê as mesmas vantagens do aleitamento precoce obtido nos partos
vaginais.
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9)
Vínculo precoce mãe-bebê.
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Segurar
e tocar o bebê pode reduzir a ansiedade dos pais, além de trazer os
benefícios do vínculo precoce.
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10) Sem
o uso de sedativos pós-operatórios.
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Sedativos
podem provocar amnésia materna e atrapalham a interação mãe-bebê. Ao invés de
sedativos, prefira usar técnicas de relaxamento. Lembre o anestesista.
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11)
Alojamento conjunto com flexibilidade.
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Permite
que você cuide do bebê de acordo com suas possibilidades. Melhora as
condições para o estabelecimento dos laços mãe-bebê e da
amamentação. Além disso o pai pode participar dos cuidados nos primeiros
dias. No entanto um berçário deveria estar disponível para que a mãe possa se
recuperar da cesariana em melhores condições.
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Ana Cris Duarte
Amigas do Parto
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